terça-feira, 28 de julho de 2009


a marca dessa cidade,
sua carne, é a pedra

é a pedra que ocupa o espaço
é a pedra que se erige, marco

rochas de contornos leves,
escarpas, penhascos, montanhas

as grandes pedras e suas formas
entre céu
e oceano

isso é o Rio

domingo, 19 de julho de 2009


calma que é só um susto

o surto dessa civilização
e seus estatutos, concretos, automóveis
suas bandeiras, leis, religiões
estados, crenças, convenções

é apenas um sonho breve
murmúrio no vozerio do universo
seixo perdido no fundo do rio sem margem
nem leito
rio só fluxo
sem fim
e perfeito

quinta-feira, 9 de julho de 2009

sonho


Turva neblina luminosa na madrugada perdida.

Calçadas ainda úmidas de sono e sereno.

A lâmpada antiga de dentro do globo de vidro leitoso sobre o poste baixo

mal ilumina a praça.

Vislumbro de longe e me aproximo réptil.

Então percebo: dezenas, centenas de pequenas mariposas voam ao redor do globo luminoso. Não, são milhares, uma miríade de mariposas batendo asas, nuvem turvando minha visão. Estou junto à nuvem e nem vejo o globo. Estendo o braço, minha mão dentro da nuvem úmida que se deixa abrir como um arbusto. Lá no centro, em vez da luz surge, túrgida, uma rosa:

tua bucetinha

segunda-feira, 6 de julho de 2009

um sonho


A voz vem, de não muito longe. Voz clara, límpida. Voz de mulher, ligeiramente grave, algo rouca. Com uma alegria incontida. Uma voz de mulher que fala alto e ri dentro do camarim, escada acima. Por entre os corredores do estúdio eu sigo aquela voz. Não sei se conversa com alguém, se canta ou se fala um texto a sós. Mas é como se falasse comigo, como se me chamasse com urgência. Um apelo claro, forte. Eu apenas sigo o caminho da voz, sem pensar em quem a emite. Eu a sigo com o mesmo instinto da abelha que busca a flor. Aquela voz é o aroma de alguém, aroma de um ser que me atrai.
E eu vou.