terça-feira, 31 de março de 2009

vísceras do poema (texto em processo)

Construo meu castelo

Castelo não, que castelo

Não é algo que hoje se construa

Exceto o castelo de cartas,

Frágil no equilíbrio

Ou o castelo de areia,

Que celebra a impermanência

 

A construção que executo

Não se dimensiona em metros

Ou massa, volume

É obra tênue, arredia

Sopro de brisa no seio do dia

Luz que atravessa a nuvem, difusa

 

É instrumento que não se utiliza

É lanterna, mas sem o lume

É bomba sem explosão

Açúcar sem o doce

A essa construção peculiar

Você chamaria poesia

Ou, mais propriamente, vida?

...

 

domingo, 29 de março de 2009



calma que é só um susto

o surto dessa civilização

e seus estatutos, concretos, automóveis

suas bandeiras, leis, religiões

estados, crenças, convenções

 

é apenas um sonho breve

murmúrio no vozerio do universo

seixo perdido no fundo do rio sem margem

nem leito

rio só fluxo

sem fim e perfeito

 



sexta-feira, 27 de março de 2009

letra antiga inacabada



da fila

essa é a tal da fila
que o povo fala

é gente atrás de gente atrás de gente atrás de gente

é gente atrás de ti gente na tua frente

espera espera muito e não anda nada
essa fila ainda entra pela madrugada

o esporte nacional do brasileiro é
entrar no fim da fila e esperar de pé



quinta-feira, 26 de março de 2009

trova


se eu fosse um passarinho

melhor que poder voar

seria fazer meu ninho

num pezinho de manacá.





terça-feira, 24 de março de 2009

do livro "olho nu"




Um poema por dia
é boa medida
Um poema por noite
a cada madrugada
quando o mundo silencia
e meus clamores soam mais
e mais ainda se você não está
se você não está presente
ou se encontra inacessível


Um poema por dia
como um comprimido
homeopatia, medicamento
de dupla profilaxia:
utilizo para cura
e a saudade remedia;
depois te ministro, poema
dose pequena de alegria

 

segunda-feira, 23 de março de 2009


poema recente

nada foi perdido

nem o dia

nem o dedo

nem o dado

 

tudo foi guardado

da maneira amorosa

com que guarda o poeta

domingo, 22 de março de 2009


um

de diante para trás.
nina simone canta aqui no computador.
Pedro brinca, na sala, de filme de animação.
eu escrevo, em busca de sentido.
abro novo blog.
poeria não dava mais.
http//:poeria.zip.net
fechado há mais de 3 anos, não poderia voltar a frequentá-lo. (ai ai, meu trema...)
caixa cerrada, boteco fechado.
muitos poemas de lá foram para meu livro, olho nu, publicado em 2008.
aqui estamos, 2009, textos novos, outros antigos, tantos outros a nascer.
hoje vi a foto de um elefante rosa, flagrado na África.
um filhote, acham que é albino.
revi a foto. de fato, seu olho é vermelho.
na Índia são comuns os elefantes albinos. na África, raros.
li isso hoje, claro.
Pedro cansou da brincadeira, sentou no sofá.
publiquei um poema como comentário no blog da Alice Sant'Anna.
hoje falei com ela por chat, ela gostou do poema, perguntou se era meu.
o livro dela é precioso.
publicado aos 2o anos!
merece a exclamação.
o link do seu blog, aí ao lado. (ou nalgum lugar desse blog)
considero inacabado, o texto que postei lá.
mas o reproduzo aqui, para encerrar:

O que essa pedra me diz
ereta diante do mar
de dentro da tarde gris
o que essa pedra me traz

O que essa pedra me traz
memória remota de infância
que rebrilha oculta onde jaz
o que essa pedra me diz

(...)