segunda-feira, 7 de setembro de 2009


pedras

pássaros

vento


um encontro

no vão do tempo

domingo, 16 de agosto de 2009



É só um rio
que passa debaixo de uma ponte

É só a lua
acesa no céu sobre o horizonte

É só o vento
e o movimento das pessoas
na noite da cidade estrangeira

Porque então o homem
que testemunha este instante
de súbito se põe tão comovido?


Paris, dez. 2004

terça-feira, 28 de julho de 2009


a marca dessa cidade,
sua carne, é a pedra

é a pedra que ocupa o espaço
é a pedra que se erige, marco

rochas de contornos leves,
escarpas, penhascos, montanhas

as grandes pedras e suas formas
entre céu
e oceano

isso é o Rio

domingo, 19 de julho de 2009


calma que é só um susto

o surto dessa civilização
e seus estatutos, concretos, automóveis
suas bandeiras, leis, religiões
estados, crenças, convenções

é apenas um sonho breve
murmúrio no vozerio do universo
seixo perdido no fundo do rio sem margem
nem leito
rio só fluxo
sem fim
e perfeito

quinta-feira, 9 de julho de 2009

sonho


Turva neblina luminosa na madrugada perdida.

Calçadas ainda úmidas de sono e sereno.

A lâmpada antiga de dentro do globo de vidro leitoso sobre o poste baixo

mal ilumina a praça.

Vislumbro de longe e me aproximo réptil.

Então percebo: dezenas, centenas de pequenas mariposas voam ao redor do globo luminoso. Não, são milhares, uma miríade de mariposas batendo asas, nuvem turvando minha visão. Estou junto à nuvem e nem vejo o globo. Estendo o braço, minha mão dentro da nuvem úmida que se deixa abrir como um arbusto. Lá no centro, em vez da luz surge, túrgida, uma rosa:

tua bucetinha

segunda-feira, 6 de julho de 2009

um sonho


A voz vem, de não muito longe. Voz clara, límpida. Voz de mulher, ligeiramente grave, algo rouca. Com uma alegria incontida. Uma voz de mulher que fala alto e ri dentro do camarim, escada acima. Por entre os corredores do estúdio eu sigo aquela voz. Não sei se conversa com alguém, se canta ou se fala um texto a sós. Mas é como se falasse comigo, como se me chamasse com urgência. Um apelo claro, forte. Eu apenas sigo o caminho da voz, sem pensar em quem a emite. Eu a sigo com o mesmo instinto da abelha que busca a flor. Aquela voz é o aroma de alguém, aroma de um ser que me atrai.
E eu vou.

terça-feira, 9 de junho de 2009

segunda-feira, 25 de maio de 2009

morre um poeta


morre um poeta
e o mundo, muda?

um poeta morre
num rincão da américa
e o leitor, esse gigante
abre chagas e rasga pétalas
e chora, sente saudade
lamenta que tenha partido
uma das nítidas vozes
que cantavam a humanidade

morre um poeta,
e o mundo, mudo.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

terça-feira, 12 de maio de 2009

sexta-feira, 8 de maio de 2009



o mapa das maravilhas do mundo
descoberto no fundo
do par de asas azuis da borboleta

sexta-feira, 1 de maio de 2009



pelo desvão da rocha

um pedaço alvo de nuvem

atravessa

o seio dos dois irmãos

sexta-feira, 24 de abril de 2009

queria escrever pedra
escrevi tempo

gravei na tampa da caixa
de pedra-sabão de Ouro Preto

terça-feira, 21 de abril de 2009

oásis - 2003



Não. Poema algum bateu à minha porta,
nenhuma poesia me veio visitar.
Apesar do encontro marcado de toda madrugada,
três e meia da manhã e nada, ninguém.

Escrevo apenas para registrar tua ausência, poesia,
eu que nunca esperei por ti.
Ao contrário, tu sempre me surpreendeste
em tardes cinzas, em noites vagas.

Ou então, poesia, ilusão
oásis
e tudo não passou de miragem
que eu tenho querido mirar.

sábado, 18 de abril de 2009

sexta-feira, 17 de abril de 2009



letra do acaso no braço

 

rubrica verde do instante

 

traço, gesto

de ideograma inacabado

 

o poema se completa

quando se conecta

à flor a borboleta


...


Veja quais são os assuntos do momento no Yahoo! + Buscados: Top 10 - Celebridades - Música - Esportes


letra do acaso no braço

 

rubrica verde do instante

 

traço, gesto

de ideograma inacabado

 

o poema se completa

na flor da borboleta







Veja quais são os assuntos do momento no Yahoo! + Buscados: Top 10 - Celebridades - Música - Esportes

a lagarta é a traga-la


letra do acaso


rubrica verde
do instante

traço, gesto
de ideograma inacabado

o poema se completa
na borboleta

segunda-feira, 13 de abril de 2009

uma frase


Omnia vincit amor



O amor vence tudo.


Virgílio


sábado, 11 de abril de 2009

sexta-feira, 10 de abril de 2009


hoje não tô para papo

tô menos pra mosca

mais para sapo

 

hoje eu tô calado

a boca apenas

um buraco fechado

 

hoje não tô para papo

o lábio colado

no lábio de baixo

 

agora calei, tô sem saco

palavra nenhuma

me escapa do caco

 


segunda-feira, 6 de abril de 2009

poema de 2003



as sete vidas

do nosso amor

nasceram mortas

 

como os filhotes abortados

pela gata abatida a pauladas

na peça do Nélson

 

todas as possibilidades

nós tivemos

e destruímos uma a uma

 

a pau, a pedra,

a ferro e fogo

afogamos nosso amor, esse sufoco.



sábado, 4 de abril de 2009

terça-feira, 31 de março de 2009

vísceras do poema (texto em processo)

Construo meu castelo

Castelo não, que castelo

Não é algo que hoje se construa

Exceto o castelo de cartas,

Frágil no equilíbrio

Ou o castelo de areia,

Que celebra a impermanência

 

A construção que executo

Não se dimensiona em metros

Ou massa, volume

É obra tênue, arredia

Sopro de brisa no seio do dia

Luz que atravessa a nuvem, difusa

 

É instrumento que não se utiliza

É lanterna, mas sem o lume

É bomba sem explosão

Açúcar sem o doce

A essa construção peculiar

Você chamaria poesia

Ou, mais propriamente, vida?

...

 

domingo, 29 de março de 2009



calma que é só um susto

o surto dessa civilização

e seus estatutos, concretos, automóveis

suas bandeiras, leis, religiões

estados, crenças, convenções

 

é apenas um sonho breve

murmúrio no vozerio do universo

seixo perdido no fundo do rio sem margem

nem leito

rio só fluxo

sem fim e perfeito

 



sexta-feira, 27 de março de 2009

letra antiga inacabada



da fila

essa é a tal da fila
que o povo fala

é gente atrás de gente atrás de gente atrás de gente

é gente atrás de ti gente na tua frente

espera espera muito e não anda nada
essa fila ainda entra pela madrugada

o esporte nacional do brasileiro é
entrar no fim da fila e esperar de pé



quinta-feira, 26 de março de 2009

trova


se eu fosse um passarinho

melhor que poder voar

seria fazer meu ninho

num pezinho de manacá.





terça-feira, 24 de março de 2009

do livro "olho nu"




Um poema por dia
é boa medida
Um poema por noite
a cada madrugada
quando o mundo silencia
e meus clamores soam mais
e mais ainda se você não está
se você não está presente
ou se encontra inacessível


Um poema por dia
como um comprimido
homeopatia, medicamento
de dupla profilaxia:
utilizo para cura
e a saudade remedia;
depois te ministro, poema
dose pequena de alegria

 

segunda-feira, 23 de março de 2009


poema recente

nada foi perdido

nem o dia

nem o dedo

nem o dado

 

tudo foi guardado

da maneira amorosa

com que guarda o poeta

domingo, 22 de março de 2009


um

de diante para trás.
nina simone canta aqui no computador.
Pedro brinca, na sala, de filme de animação.
eu escrevo, em busca de sentido.
abro novo blog.
poeria não dava mais.
http//:poeria.zip.net
fechado há mais de 3 anos, não poderia voltar a frequentá-lo. (ai ai, meu trema...)
caixa cerrada, boteco fechado.
muitos poemas de lá foram para meu livro, olho nu, publicado em 2008.
aqui estamos, 2009, textos novos, outros antigos, tantos outros a nascer.
hoje vi a foto de um elefante rosa, flagrado na África.
um filhote, acham que é albino.
revi a foto. de fato, seu olho é vermelho.
na Índia são comuns os elefantes albinos. na África, raros.
li isso hoje, claro.
Pedro cansou da brincadeira, sentou no sofá.
publiquei um poema como comentário no blog da Alice Sant'Anna.
hoje falei com ela por chat, ela gostou do poema, perguntou se era meu.
o livro dela é precioso.
publicado aos 2o anos!
merece a exclamação.
o link do seu blog, aí ao lado. (ou nalgum lugar desse blog)
considero inacabado, o texto que postei lá.
mas o reproduzo aqui, para encerrar:

O que essa pedra me diz
ereta diante do mar
de dentro da tarde gris
o que essa pedra me traz

O que essa pedra me traz
memória remota de infância
que rebrilha oculta onde jaz
o que essa pedra me diz

(...)